quarta-feira, 22 de julho de 2015

É de esquerda, barbudo e gente boa: mas NÃO é para casar


Quando eu me assumi feminista, mesmo sem entender direito o que isso significava, passei por uma série de situações constrangedoras. Muitos (muitos!) homens me agrediram verbalmente, tentaram deslegitimar a minha luta e vomitaram vários estereótipos que se têm a respeito das ativistas. Na época, eu não sabia lidar com isso, mas segui firme no que eu acreditava.

Com o passar do tempo, percebi que a maioria desses homens começou a conversar comigo sobre o feminismo, postavam em suas redes sociais e esperavam que eu desse um troféu de homemsalvadordapátriaedalutasdasminorias. O que graças à deusa, nunca ocorreu.

E eu vou explicar o motivo: eu não sei o que me deixa mais irritada: o machistinha que não reconhece as baboseiras que faz, ou o famoso “esquerdo-macho” aquele cara que diz ser a favor da igualdade de gêneros, mas acredita que o feminismo propaga mais ódio, logo, o ideal seria lutar pelo “humanismo”. No fim das contas eles são a mesma coisa: querem manter o protagonismo, silenciar e oprimir.

A questão é que o cara machista é fácil de identificar. O esquerdo-macho não.

Ele é o cara de esquerda envolvido nas questões sociais, lê Nietzsche, prefere um boteco copo sujo à uma balada, ouve Coltrane e ainda é barbudo: o homem que eu pediria em casamento. Se não fosse, é claro, mais um babaca que não reconhece os privilégios que o patriarcado lhe concedeu.


Esse cara é aquele que se diz apoiador das causas das mulheres (alguns até ousam se intitular como feministas), mas acha que somos radicais em muitos pontos e querem nos ensinar a reivindicar direitos. Aliás, as pautas que você não critica são aquelas sobre liberdade sexual, não é? Porque aí te beneficia.

Somos radicais, sabe por que, homem gracinha? Queremos atingir um patamar em que você está desde os primórdios. Engraçado, nunca te vi falando que os sindicalistas são radicais ou que os funcionários devem ser mais dóceis com o patrão.

Esses homenzinhos hétero, na maioria das vezes brancos, da paz, energia legalize, focados no seu umbiguinho gente boa, são tão babaquinhas que vêm nos chamar no bate papo pra falar do "ódio" praticado pelas minorias que tomam "tudo" como preconceito e respondem de maneira raivosa antes de qualquer coisa.

Quando argumentamos que essa raiva é uma resposta e fruto de um histórico de discriminação e que ainda que não ideal, é necessário, o homenzinhogenteboaenergiagracinhadobem resolve encerrar a discussão porque ele (como pode?) não ganhou nossa aprovação e não conseguiu colecionar estrelinha em seu diário de boas ações que confirmam que ele é um cara legal.

Nós lutamos por igualdade, pelo empoderamento e para termos mais espaços que discutam nossas pautas. E antes que você fale que é exagero, que nós, feministas de esquerda, queremos falar apenas sobre mulheres, vai um aviso: meu feminismo é interseccional. A luta contra a desigualdade social, o combate a pobreza, ao racismo e toda forma de preconceito também são discutidas.

Esse texto é pra você, floquinho de neve sofrido, que paga de feminista na internet, mas compartilha o vídeo da novinha pelada no whatsapp.

Beijos de luz <3