segunda-feira, 2 de março de 2015

Tá liberado: ter pochete - Pelo direito de não ter barriga sarada

- Me fale a verdade: você está comendo muita massa ou bebendo muita cerveja?

Essa foi a pergunta da minha mãe ao me ver após algumas semanas, se referindo à minha barriga. Sorridente, respondi: - As duas coisas, Dona Cida!

Na hora eu achei graça, mas, depois parei para pensar em como essa pergunta seria problemática pra mim há um tempo atrás. Eu sempre fui neurótica por causa do meu corpo, no fundamental era a “tábua”, “cabo de vassoura”, etc.

O bicho pegou pro meu lado na adolescência: enquanto as meninas se desenvolviam e passavam por aquela fase de exibir seios, coxas e bunda (o que é normal), eu não ousava usar shorts, nem na escola e nem fora dela.

Enfim, pela primeira vez, eu chego aos sonhados 50kg. Sem grilos, sem muito esforços.  Mas, melhor que isso: olho no espelho, e, pela primeira vez, gosto do que vejo. Eu não estou cega ao ponto de negar as minhas imperfeições: minha barriga está positivíssima, bem longe de entrar na onda de “barriga negativa”. Mas quer saber? Foda-se.


Durante toda a minha infância e adolescência (principalmente na adolescência) eu me deixei levar pela ditadura da beleza: A TV mostrava que as meninas que se davam bem e eram desejadas eram branquinhas, cabelo liso e comprido, seios fartos e coxas e bunda enormes. E claro, as revistas davam 10 dicas para se tornar assim. E por aí vai...

Tentei frequentar a academia, porém, como eu detesto aquele ambiente, não durou muito tempo. Comia de tudo, e: nada. O que eu não conseguia entender era que eu não estava magra. Eu sou magra. 

Eu me arrependo de não ter comprado os shorts que eu gostava, de não usar as saias que eu achava bonitas, pelo simples fato de pensar que “pagaria mico” e “não me encaixava no padrão”.  Infelizmente, naquela época ninguém veio me falar que eu não devia acreditar na mídia, e que os padrões de beleza exigidos por ela, eram praticamente inatingíveis, e que exigir isso de uma adolescente chega a ser covardia.

Graças à Deusa, eu conheci o feminismo e ele me libertou de todos esses estereótipos. É desumano ditar desde cedo para uma menina o que ela deve fazer para ser aceita na sociedade e ser considerada bonita, quando na verdade, todos nós sabemos que não existe regra para a beleza.

Existe beleza no magro e no gordo, no negro, amarelo e branco, nos olhos puxados e arregalados. No cabelo crespo e amarelo, no liso e ruivo, no curto e preto. Existe beleza na diversidade. Mais que isso: existe beleza no que ela pode oferecer. Até porque, a beleza física se torna irrelevante depois de quinze minutos. É preciso ter algo além, a beleza por si só não sustenta nenhum tipo de relação. Como Antonie de Sanit-Exupéry bem escreveu em O Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”.

E, é isso que me faz olhar hoje no espelho e gostar do que está sendo refletido. Eu sei que sou muito mais que esses 1,55m de altura. Eu sei que eu peso muito mais no mundo do que esses míseros 50kg. E, sei que o tamanho dessa barriga que incomoda a minha mãe, minhas tias e algumas colegas, não é nada perto do tamanho do incômodo que eu provoco quando dissemino o feminismo.

Moçxs, desconstruímo-nos desses rótulos. Se sentir inadequadx porque falam que você não está ~nos padrões~, só te faz gastar grana e contribuir com o lucro das empresas que vendem produtos para a pseudo-felicidade. Somos lindxs, cada uma do seu jeito (e variadas formas).