- Me fale a verdade: você está
comendo muita massa ou bebendo muita cerveja?
Essa foi a pergunta da minha
mãe ao me ver após algumas semanas, se referindo à minha barriga. Sorridente,
respondi: - As duas coisas, Dona Cida!
Na hora eu achei graça, mas,
depois parei para pensar em como essa pergunta seria problemática pra mim há um
tempo atrás. Eu sempre fui neurótica por causa do meu corpo, no fundamental era
a “tábua”, “cabo de vassoura”, etc.
O bicho pegou pro meu lado na
adolescência: enquanto as meninas se desenvolviam e passavam por aquela fase de
exibir seios, coxas e bunda (o que é normal), eu não ousava usar shorts, nem na
escola e nem fora dela.
Enfim, pela primeira vez, eu
chego aos sonhados 50kg. Sem grilos, sem muito esforços. Mas, melhor que isso: olho no espelho, e, pela
primeira vez, gosto do que vejo. Eu não estou cega ao ponto de negar as minhas
imperfeições: minha barriga está positivíssima, bem longe de entrar na onda de “barriga negativa”. Mas quer saber? Foda-se.
Durante toda a minha infância
e adolescência (principalmente na adolescência) eu me deixei levar pela
ditadura da beleza: A TV mostrava que as meninas que se davam bem e eram
desejadas eram branquinhas, cabelo liso e comprido, seios fartos e coxas e
bunda enormes. E claro, as revistas davam 10 dicas para se tornar assim. E por aí vai...
Tentei frequentar a academia, porém,
como eu detesto aquele ambiente, não durou muito tempo. Comia de tudo, e: nada.
O que eu não conseguia entender era que eu não estava magra. Eu sou magra.
Eu me arrependo de não ter
comprado os shorts que eu gostava, de não usar as saias que eu achava bonitas,
pelo simples fato de pensar que “pagaria mico” e “não me encaixava no padrão”. Infelizmente, naquela época ninguém veio me
falar que eu não devia acreditar na mídia, e que os padrões de beleza exigidos
por ela, eram praticamente inatingíveis, e que exigir isso de uma adolescente chega a ser covardia.
Graças à Deusa, eu conheci o
feminismo e ele me libertou de todos esses estereótipos. É desumano ditar desde
cedo para uma menina o que ela deve fazer para ser aceita na sociedade e ser
considerada bonita, quando na verdade, todos nós sabemos que não existe regra
para a beleza.
Existe beleza no magro e no
gordo, no negro, amarelo e branco, nos olhos puxados e arregalados. No cabelo
crespo e amarelo, no liso e ruivo, no curto e preto. Existe beleza na diversidade. Mais que isso: existe beleza no que ela pode oferecer. Até porque, a beleza física se
torna irrelevante depois de quinze minutos. É preciso ter algo além, a beleza
por si só não sustenta nenhum tipo de relação. Como Antonie de Sanit-Exupéry bem escreveu em O Pequeno Príncipe: “O essencial
é invisível aos olhos”.
E, é isso que me faz olhar hoje no
espelho e gostar do que está sendo refletido. Eu sei que sou muito mais que
esses 1,55m de altura. Eu sei que eu peso muito mais no mundo do que esses
míseros 50kg. E, sei que o tamanho dessa barriga que incomoda a minha mãe, minhas
tias e algumas colegas, não é nada perto do tamanho do incômodo que eu provoco
quando dissemino o feminismo.
Moçxs, desconstruímo-nos
desses rótulos. Se sentir inadequadx porque falam que você não está ~nos
padrões~, só te faz gastar grana e contribuir com o lucro das empresas que
vendem produtos para a pseudo-felicidade. Somos lindxs, cada uma do seu jeito
(e variadas formas).