segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O que aprendi com Júpiter este ano

2015 já bate na porta e parece que foi ontem que eu pulei sete ondinhas e prometi que este ano seria diferente: na vida pessoal, amorosa e no trabalho. E, estaria mentindo se dissesse que não foi.

2014 é regido por Júpiter, logo, foi (e está sendo) um ano de exageros, intensidade e muito barulho. Segundo os astrólogos, meu signo (escorpião) seria um dos mais beneficiados com isso. Hoje, eu diria que eles deveriam trocar "beneficiar" por "atingido".

O balanço geral deu negativo. Ora bolas, o que esperar de uma aspirante a jornalista, feminazi e ainda por cima escorpiana? O resultado é só: emoção, emoção e emoção. Para que raios intensificar o que já vive no aumentativo por natureza, Júpiter?

Você deve estar pensando que eu sou aquele tipo de pessoa que compra revista de astrologia e vai no tarólogo todo mês. Bem... não sou. Quem dera se eu tivesse dado ouvidos aos astrólogos no início deste ano. Eles já previam: a dança fluiria de acordo com a sua vibe.  Júpiter estava aí apenas para ampliar as emoções.

Só de apartamento eu troquei três vezes. Arrumei outro emprego para acabar com o tempo livre. Apaixonei por um metaleiro. E por aí foi.

No fim de novembro eu já estava exausta, contando cada minuto para o ano acabar. Hoje eu parei pra pensar que essa ansiedade de recomeço é comum pra geral, todos os anos. E resolvi deixar de ser ingrata e agradecer -­ e crescer -­ por todas as situações que eu fui submetida.

Mudar tanto de apartamento foi a melhor coisa que eu fiz: hoje eu tenho uma janela gigante virada pro centro da cidade. Aumentei minha rotina de trabalho, logo, minha renda financeira também. Conheci uma pessoa que passou pela minha vida e sem saber me ensinou que metal é bom (mas ainda não gosto de Sepultura) e que discutir feminismo com homem às 2h da madrugada numa terça­-feira soma para as duas partes.

Mas, antes de tudo, pela primeira vez eu estou começando a me entender e a me aceitar. Até o último réveillon eu apenas pedia, pedia, pedia e nunca entendia porque não rolava. Eu sempre esqueci o principal: conhecer a minha essência.

Sou como a haste fina de Bethânia, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta. A bruta flor de Caetano. A Nina de Chico. Sou todas e nenhuma. A poesia que não respeita a métrica. O jornalismo que não segue o lead. Uma montanha­-russa de sentimentos.

Eu ousaria definir com uma frase que li no facebook: "Eu moro em mim, mas ô casa bagunçada."

E, aceitando essa mistura de aumentativos, parei de jogar pedras em 2014 ou quando o ano não atende as minhas expectativas. O problema não são os dias. É a sintonia que a gente vibra. O Universo conspira a favor se a gente deixar a bad vibe e curtir e agradecer pela luz do sol ou o céu estrelado.

Pode parecer clichê, mas é verdade: é hora de parar de espirrar a poeira e varrer para deixar a casa limpa para o ano que vai chegar. E, não esquecer de segurar o forninho porque Júpiter não vai dar moleza pra ninguém até março de 2015, quando ele passa a bola para Marte.

Qualquer coisa, se o clima ficar osso de aguentar e você quer ficar numa relax, numa tranquila, numa boa, coloque Molejo no último volume e tome vinho seco sozinho em casa. É batata!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O picacentrismo nosso de cada dia

Dei um tempo nesse assunto depois de ter entrado em algumas polêmicazinhas no facebook que me deram dor de cabeça nos dias. Após eu conhecer o feminismo e me libertar de todos esses estereótipos de merda que o patriarcado nos impõe (apesar da luta ser diária) tento levá-lo ao maior número de mulheres possível. Bom, o problema para os nossos queridos é exatamente este: o movimento é para e sobre mulheres, homem não mete a pica aqui.

Lembro da última postagem que causou um alvoroço e atraiu dezenas de machinhos, um deles, precursor da polêmica, foi ridicularizado quando uma amiga feminazi-satânica postou prints dele se redimindo e admitindo ser um babaca no INBOX (porque é óbvio, nos comentários era o machão, tinha que fazer média e ganhar like dos brother). Senti um enorme orgulho em ver tanta mulher engajada nesse dia. Porque se tem que dar palpite no feminismo, somos nós, homem vai cagar regra na organização do quarto deles, se derem conta sem pedir ajuda da mamãe.

Que mulher nunca passou por uma situação parecida? Pode ser qualquer assunto que diz respeito às mulheres, sempre tem um homem querendo intrometer e dizer: "não é bem desse jeito", "isso tá errado", blablabla, mimimi, vai peidar n'agua, fera. Mas, se a pauta é feminismo, respire fundo: é certeza que vai aparecer machozinho cagando regra e te dizendo o que é certo e errado nas nossas reivindicações.

Grafite no Cairo protestando contra a violência na praça Tahrir, no Egito

Uma vez escutei de um colega que se diz feminista (cof, cof) que homem pode entrar no movimento e dar palpite sim. Não, amigão! De uma vez por todas: você não estabelece as regras aqui. Se você se acha tão preocupado com a nossa luta, nos ouça e nos respeite! Se você é homem cis, nunca saberá o que é sofrer violência (física e psicológica) todos os dias. Pode até imaginar, mas não chega nem perto do que a sua mente é capaz de mensurar. Só uma mulher conhece todos os traumas adquiridos ao longo da vida pelo simples fato de ter nascido com dois cromossomos X.

Um exemplo clássico desse picacentrismo é quando você fala alguma coisa e  aparece um dizendo: "mas EU não sou assim, sou diferente". Brother, apenas PARE de fazer isso. Primeiro você tem que entender que quando se fala em machismo estamos tratando de uma sociedade arcaica e patriarcal. Como toda regra há exceção, também sabemos que existem homens firmeza no mundo. Mas, quando uma mulher te fala sobre o assunto e você vem chamar a atenção, simplesmente demonstra que não se importou com nada do que ela disse e invalida toda a revolta da mina.

E outra: se você se importa com a igualdade de gêneros, vai militar em qualquer lugar. E você não precisa nos provar nada e tentar nos ganhar na lábia, queremos ver é você falar com o seu amigo o quão é desrespeitoso cantar uma mulher, usar desculpa que a garota estava bêbada e forçar sexo, não fazer piadas com violência contra a mulher, parar de torrar a paciência de uma mulher em uma festa e só respeitar quando o cara que ela está acompanhada chega perto (porque homem merece respeito, a mulher não, né?) e uma infinidade de situações.

Depois que comecei com a militância, fui chamada por machinhos de vários adjetivos não muito agradáveis, um deles e talvez o mais comum é o clássico "mal-comida", quero deixar claro que graça às deusas este não é o meu caso, mas, obrigada pela preocupação. Mas, o que mais me chamou a atenção embora não tenha sido surpresa foi quando repetidas vezes me chamaram de sapatão. Hahaha, é óbvio que feminista ou é mal-comida ou não gosta da fruta, né? Como assim eu, senhor pica, sou tão desprezado? Logo eu, dono de tantos privilégios?

Realmente, apesar de gostar de homem sou mais macho do que muitos, já dizia Rita Lee. E, estou voltando com tudo através deste blog que vos fala, para fazer ativismo de sofá. Porque eu faço parte de uma parcela mínima da população que acredita na ideia radical de que mulher é gente.

Eu sinto um alívio danado quando olho e vejo que não sou mais a Nayara de quase dois anos atrás, propagodora (inconscientemente) de misoginia. Todas nós já fomos assim um dia, e, eu apenas desejo à todas inimigas que conheçam o feminismo e sejam felizes. O caminho é cheio de espinhos, começamos a questionar diversas situações que antes achávamos normais, mas, o autoconhecimento e o gosto de liberdade é indescrítivel. Vai ter mulher empoderada sim, machinhos. E tirem as picas do caminhos porque queremos passar!


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"Mas ele só quer te comer" - Pelo direito de não ligar no dia seguinte

Estava eu aqui, de boa rolando a barra do feed de notícias e, me deparo com uma curtida de uma amiga em uma página: "Mulheres contra o feminismo" cof, cof (malditas feminazis desgraçadas, por causa delas não preciso mais ficar em casa lavando cueca do meu maridinho), depois eu discuto sobre a página mas, curiosa como sou, cliquei e uma das primeiras coisas que li foi: "Creio que até para a mulher que se julga a mais "independente" durona e desapegada, o telefone que não toca no dia seguinte de uma noite de sexo, é motivo de no mínimo decepção." Parei. As vezes concordo com um amigo quando ele chama o facebook de "Favela Digital".

Pois bem, vamos lá: a mulher que se julga a mais "independente" durona e desapegada, não necessita de homem para sentir prazer. Se ela ainda não foi a um sex shop, provavelmente já descobriu que a sua mão possui habilidades deliciosas.

Mas, não vou tirar o mérito do sexo casual. Sabe aqueles dias em que você acorda deeextruidora mexxxmo? Não há parede que aguente. Nessas horas meu amigo, todo mundo corre risco: desde o melhor amigo até o padeiro simpático.


Até aí, tudo bem. O problema é que não sei de onde tiraram mas, implantaram na cabeça de nós mulheres que: fez sexo, o cara tem que ligar no dia seguinte. Porrã, quando eu quero dar, é só isso, não estou assinando um termo de compromisso de ficar com a pessoa o resto da vida na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Quando alguém diz: "Não dá moral, ele só quer te comer" será que essa pessoa não faz ideia que é justamente isso que você quer? As vezes a gente só quer dar mesmo. É uma coisa simples, animalesca mesmo, gente.

Sabe aquela semana que demorou sete anos para passar? Na sexta você não quer ninguém para assistir filme e dormir de conchinha. Quer passar aquele batom vermelho e ser comida. Parem de romantizar as coisas. Ou só o chocolate pode ser degustado com prazer? Ops, também queremos! E, como ninguém depois de comer um ferrero rocher delicioso precisa guardar a embalagem, nós também não precisamos receber ligação no dia seguinte.

Se o cara me coloca de quatro, me dá uns tapinhas e me chama de cadela, isso não me diminui como mulher independente que luta diariamente pela igualdade de gêneros. Só mostra que eu tive uma noite maravilhosa, apenas.

Então, deixe-nos ser comidas, por favor. Como diz a Rita Lee: sexo antes, amor depois.

[Ouvindo: Amor e Sexo - Rita Lee]

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Vazou o vídeo da novinha no whatsapp - ­ A culpa é nossa!

Recentemente, uma atriz pornô gravou um vídeo para ser compartilhado pelo whatsapp, com o intuito de conscientizar quem utiliza o aplicativo, a não divulgar vídeos e fotos íntimas sem o consentimento dos envolvidos, o famoso revenge porn.

Há quem diga que ela fez para se publicizar, mas, não entrarei nesta questão. O fato é que o ato de compartilhar a vida íntima de outras pessoas é uma problemática que tem se agravado nos últimos anos e feito muitas vítimas. Fatais.

Duvida? Procura aí no google pelas palavras: "vítima de vídeo whatsapp", que você entenderá o que estou dizendo. Isso acontece todos os dias, em todos os lugares do mundo. Em 2013, tivemos dois casos que repercutiram no Brasil, o de Fran, de dezenove anos, e o de Júlia Rebeca, de dezessete, na época. Ambas foram vítimas de assédio, bullying e linchamento virtual. O motivo? Fizeram sexo.



A Fran, como as outras vítimas do revenge porn, teve a vida virada pelo avesso, li em alguns sites que a jovem teve que mudar a aparência e não pode voltar ao trabalho. No caso da adolescente de dezessete anos, o caso foi ainda pior: ela não aguentou a pressão e se suicidou dias depois.

Daqui eu já escuto o patriarcado dizer: "a culpa é toda delas, não quer que isso aconteça, é só não deixar filmar". É claro que a culpa sempre cai sobre o colo das vítimas, é óbvio. Mas é com pesar que eu escrevo este texto, para afirmar que, não importa a mim e a você se com todo o avanço da tecnologia não pode mais deixar ser filmado durante o ato sexual, não me interessa se elas fizeram para aparecer (o que acho difícil, hein?!). Devemos nos ater para as consequências que isso traz para todas essas meninas.

A cada menina/mulher que deixa de sair de casa ou que suicida porque teve um vídeo íntimo vazado pelo whatsaap, a culpa é de quem deixou isso vazar. E, de quem mostra para o amigo e compartilha. Então, vejam só: somos corresponsáveis por essas jovens terem suas vidas destruídas.

Porque você pode não se lembrar de alguma delas até a próxima aparecer na sua galeria de vídeos, porém, o trauma não desaparece da mente assim tão fácil. (Freud explica!)

"Vadia", "vagabunda", "tem que levar porra na cara mesmo", estes são apenas alguns dos comentários que eu me lembro de ouvir na época do caso Fran. Queria saber se quem faz esse tipo de julgamento ao ver um vídeo do tipo, já imaginou que a própria mãe, nove meses antes dele nascer, deu pra caralho e em treze segundos pode ter feito um ok com as mãos e dito para o marido: quer meu cuzinho, quer? Meu cuzinho apertadinho? A diferença é que o pai, se fosse um babaca, não tinha um smartphone. Sorte da mãe.

Sua mãe pode ser Maria, mas não é virgem. Aliás, já passou a hora dessa geração que se diz muito evoluída, entender que mulher gosta de sexo, e não há nenhum segredo nisso. Todos nós gostamos. O problema é que a sociedade nos divide em duas categorias: mulheres para divertir e mulheres para casar. As primeiras são objetificadas e não servem para relacionar. Das outras, se espera que sejam verdadeiras ladies, comportadas e submissas. Só servem de enfeite.

Quando eu digo que são milhares os homens "heterossexuais" que não gostam de nós mulheres, há quem tente me mudar de ideia. Enquanto não houver uma lei específica para punir os criminosos que compartilham do revenge porn, mais mulheres serão crucificadas, massacradas e culpabilizadas.

Porém, melhor que remediar, é prevenir. E, uma alternativa é uma mudança de comportamento dessa sociedade violenta, misógina e machista, (lembrando que também há mulheres reprodutoras do discurso machista) que pare de jogar pedra na Geni, na Fran e na Julia Rebeca. O mínimo que se espera ao transar com alguém na cama, banheiro, cozinha, quintal, ou onde o fetiche mandar, é respeito.

Por um mundo que se possa fazer vídeos de treze segundos com a segurança que ele não irá se propagar por outros celulares. Até porque, há quem goste de ser exibir para câmera e ninguém tem o direito de julgar o fetiche do outro. Sejamos menos hipócritas e gozemos mais. Aliás, naquele livro sagrado que muitos têm como filosofia de vida, está escrito: Deus ama quem dá com alegria.


Sobre o texto:
Minha contribuição para o Babel Digital :)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Por um mundo com menos blá blá blá e mais atitude - Um ode aos que se acham muito especiais

"Nay, escreve aí: ainda vou ser reconhecido nacionalmente, vou tocar nos grandes palcos e terei dinheiro para rodar o mundo".

Disse, humildemente, um colega que, dos quinze aos vinte e oito anos compôs cerca de trinta músicas e, até hoje, gravou apenas uma em estúdio. Tem mais: toca esporadicamente em bares e casas noturnas, e o tempo médio em um emprego é três meses, já que a falta de compromisso e distração no trabalho impedem que ele faça carreira em alguma empresa.

Não, eu não tenho nenhum problema com esse colega. Apenas exemplifico uma tendência crescente dessa geração Y (da qual faço parte, porém não me identifico em muitos aspectos) de se achar a revolucionária e muito especial por algum motivo qualquer.

Muito já se foi dito sobre as novas tecnologias e como o comportamento do jovem está mudando drasticamente com a chegada dos smatphones, iphones, ipads, e o diabo a quatro que eu ainda não sei mexer. Salvo meu humilde samsung, que agradeço todos os dias por facilitar a comunicação através do whastapp (ô aplicativo divino!). Mas a discussão aqui vai muito além disso. Eu falo dessa juventude hedonista, individualista, que acha que o mundo pode acabar em sexo, drogas e rock'n roll.

Aliás, se terminasse assim seria uma maravilha. O problema é que vivemos em um sistema capitalista, um mercado de trabalho competitivo, em um planeta que está cada vez mais febril. E ainda tem o lixo do banheiro que precisa ser colocado pra fora todas as manhãs.

Sem generalizações, até porque tenho a sorte de conhecer jovens bem sucedidos que se esforçam para conseguir alcançar seus objetivos. Por outro lado, (o que me motivou a escrever este texto) são inúmeros de indivíduos como esse colega meu, que preservarei a identidade.


Pessoas que acreditam fielmente serem especiais simplesmente por terem uma boa ideia, projetos lindos no papel, composições estilo Chico, poemas como os de Leminski, pinturas inspiradas nas de Tarsila, e por aí vai. O mundo agradeceria com a vinda destes novos artistas talentosos se, por acaso, eles fizessem por onde.

A questão é que esses grandes artistas anônimos (porque o mundo ainda não teve a capacidade de reconhecê-los, claro) se fecham no fantástico mundo de bob, com seus relacionamentos de trinta dias (para postar no facebook), seus conflitos pessoais e crises existenciais. No primeiro momento, parecem jovens inteligentes e descolados, mas ao se depararem com problemas cotidianos, como mais exigência dentro da empresa, trabalhos de faculdade, contas a pagar e várias outras coisas comuns do dia-a-dia, eles simplesmente se descontrolam e não sabem como agir.

Li vários artigos que falam sobre esse egoísmo da geração Y para poder me embasar melhor o que já havia reparado em algumas pessoas com as quais convivo. Se bem que não é difícil perceber a mudança de pensamento dos jovens dentro desta mesma geração, por exemplo os dos anos 90, em relação aos de hoje. Em 1992, uma nação traçou um objetivo e conseguiu: o impeachment de Collor. Mais de vinte anos depois, uma juventude insatisfeita com os seus representantes também foi à rua protestar. No início, era "Movimento Passe Livre", depois virou #VemPraRua, com milhares de indignações em cartazes e nenhum foco. O gigante apenas tinha tomado uma injeção de ânimo mas quando o efeito acabou ele voltou a dormir. Também salvo exceções de jovens que acordaram e viram que têm deveres, mas devem cobrar pelos seus direitos e hoje são pessoas cientes sobre os acontecimentos da política no país.

Mas é a história da romantização dessa nova juventude: há aqueles que o mundo pode acabar amanhã, que um ex-senador cheirador de pó pode presidenciar o Brasil, que não sabem o que está acontecendo em relação à Petrobrás, na verdade, não repararam as diversas deficiências do bairro onde moram (ou repararam, mas isso tanto faz), que eles estão muito afetados com o término do namoro, com a próxima temporada do seriado e com aquela foto que não teve dez curtidas.

Não sei dizer o porquê desse perfil estar presente em muitas pessoas que conheço. "Sou especial porque escuto Beatles, gosto de ler livros e jogo vídeo game ao invés de sair para a balada". Primeiro que os caras de cabelo de cuia, como dizia minha avó, venderam mais de 500 milhões de discos, então não há razão em se sentir diferente por gostar deles. Ler livros é um favor que se faz ao cérebro e atrevo a dizer que trocar um show do Molejo por um playstation 4 que seja, é, no mínimo, falta de noção.

Por mais que a causa ainda seja desconhecida, devemos nos ater as consequências deste novo comportamento: jovens com um certo bloqueio na hora de concluírem projetos, irresponsáveis com seus compromissos -principalmente dentro de grandes empresas-, dificuldade de relacionamentos e de ouvir um, dois... cinquenta "não's" que a vida dá. Como diz o professor João Valério: "o mundo é mau, bonitinhos!"

Então, ao invés de ficar sentado tocando violão, cantando sobre o céu azul e as flores no jardim, esperando que a sua arte um dia seja reconhecida, se esforce, quebre a cara, mas mostre serviço. O mundo aqui fora não quer saber se você se sente um cara especial e desperdiçado, quer simplesmente que você apresente motivos para sê-lo.



sexta-feira, 7 de março de 2014

Feliz dia da mulher é o caralho

Hoje às 7 da manhã quando eu estava indo trabalhar, um senhor me parou no meio do caminho:
- Moça, que dia é hoje?
- Sexta, dia 8.
- Então, Feliz Dia da Mulher!!!

Fiquei feliz não pela comemoração em si, mas por ele ser homem e ter se lembrado logo tão cedo. E por ter me parabenizado, sem me conhecer. Mas olha, que bosta, nós dois nos enganamos. Hoje ainda é 7 de março. 
Ainda assim, aproveito para pontuar algumas coisas, não apenas por ser véspera da data, mas são manifestações pessoais que quem me conhece sabe que fazem parte de uma luta diária.

O Dia Internacional da Mulher comemora as conquistas por melhores condições de vida e trabalho do sexo feminino. Para os que falam: "o dia da mulher é só um, os outros do ano são dos homens", eu só tenho um pedido a fazer: continue lendo, por favor. Assim como as revistas femininas só falam sobre homens, hoje, as palavras desta feminista que vos escreve, são pra você.

Primeira coisa: no Brasil, o Dia Internacional do Homem é celebrado no dia 15 de julho com o objetivo de promover a saúde masculina e buscar a igualdade entre os gêneros. Ou seja: homem também pode usar cor-de-rosa sem ser chamado de bichinha, pode ser livre em suas escolhas e não se encaixar nos estereótipos desta sociedade machista e patriarcal sem ser taxado como veado. 

E segundo, cara, a luta das mulheres se arrasta há mais de séculos. Há cerca de 150 anos, 129 operárias que reivindicaram melhores condições de trabalho foram trancadas em uma fábrica e queimadas vivas nos Estados Unidos. Fora isso, demorou muito tempo para a mulher ter permissão para cursar o ensino superior, votar, sair de casa para trabalhar, divorciar, entre outras coisas básicas

"Ah, ok. Parabéns, Nayara. Vocês já conquistaram o espaço na sociedade. Tem até uma presidente mulher."
Desculpe, mas não temos o que comemorar. Como diria o Criolo: "Não baixe a guarda, a luta não acabou!"
Por três anos consecutivos o Brasil ocupa a 7ª posição na listagem dos países com maior número de homicídios femininos. 
Eu sou repórter e ocasionalmente cubro crimes passionais e quando conto indignada para alguém sobre o fato da vez, geralmente me perguntam: "Mas a mulher que morreu (esfaqueada, estrangulada, torturada na frente dos filhos) traía o marido?" 
Juro, sempre fico perplexa com essa pergunta. Nós fomos criados com a cultura ridícula que a culpa é da vítima, quase nunca do opressor. 

Além disso, somos bombardeadas com produtos oferecidos por indústrias de beleza que lucram absurdamente pregando uma cultura misógina, nos deixando com medo de envelhecer e engordar. A famosa ~ ditadura da beleza ~. Por favor, meu caro, entenda que mulher não tem 1001 utilidades. Não exija que a sua companheira trabalhe, estude, cuide da casa sozinha, dos filhos, e resolva todos os pepinos (linda e em cima do salto 15) porque simplesmente "mulher dá conta do recado". Coitado de você, né? 
Pois bem, amanhã é dia de receber recados bonitinhos e flores em homenagem ao dia da mulher. Para os meus amigos, eu digo que esta data só fará sentido pra mim no dia em que:

- o tamanho da minha saia não for motivo pra eu ser chamada de "piriguete"
- eu não precisar pensar duas vezes na roupa que vou sair com medo de ser estuprada
- o meu jeito de vestir não for relacionado ao meu caráter
- eu não for assediada ao andar nas ruas através de cantadas (é ridículo e constrangedor, parem!)
- eu puder fazer o que quiser com o meu corpo sem sofrer imposições religiosas
- quando eu não for julgada de lésbica ou menos feminina por simplesmente não seguir os padrões de beleza
- no dia em que as minhas atitudes não forem associadas a homem, falta de pica ou louça pra lavar
-  quando eu não precisar "me dar o respeito", porque afinal, ele já é meu por direito!

Eu poderia enumerar mais uma série de situações, mas essas são suficientes o bastante para exemplificar o machismo camuflado nosso de cada dia. (In)felizmente, não nasci com a ~dádiva~ do cromossomo Y, então não tenho muita coisa pra comemorar amanhã. A luta está apenas começando. E se você, homem, leu até aqui, obrigada!!! Porque vocês também precisam do feminismo. Ao contrário do que muitos pensam, não queremos promover um apartheid entre os gêneros, buscamos por igualdade. Para que o alistamento militar não seja obrigatório, para que o processo de ganhar a guarda de um filho não seja burocrático apenas porque você é o pai. Para que você não seja o "veadinho" quando a sua opinião for diferente dos seus amigos, e para outras mil coisas. 

Então meu querido, amanhã não nos deseje "feliz dia", abrace a nossa causa, lute com a gente! Afinal, por incrível que pareça, a nossa maior conquista será não precisar mais lutar por igualdade. 


"Porque eu sou minha, só minha, e não de quem quiser!"


 [ouvindo: 1º de julho - Cássia Eller]

sábado, 11 de janeiro de 2014

Porque ficar em casa sábado à noite e ser pra casar não faz sentido - Um ode aos esteriótipos

"Não vou sair hoje, sou pra casar HAHAHA"; "Mais um sábado vendo filme em casa, já posso casar."

Se você não viu sentido nestas expressões, parabéns. Se concorda, pode fechar a aba e voltar a assistir a novela. 



Hoje não foi a primeira vez, frequentemente aos finais de semana vejo alguns amigos da minha timeline comentarem que não sairão à noite, e por isto, são pessoas para casar. (Como se houvessem pré-requisitos pra se entregar à alguém e firmar um compromisso).

Quando os comentários são do sexo masculino, infelizmente, eu não me assusto. Mas o que me entristece é ver mulheres machistas que acreditam nisso, escravas de regras impostas por uma sociedade com a moral arcaica, retrógrada, em que a mulher que presta não dá na primeira noite.

Como bem cantou Novos Baianos: "chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor." Acorda, mulher! Você pode gostar de balada, beber cerveja e mandar o juiz tomar no cu no meio do jogo do Cruzeiro que isso não te faz menos que alguém. E principalmente: transar com um cara na primeira noite, não te faz vagabunda. 

Se dê ao respeito, mulher! Aceite as suas vontades, atenda aos seus desejos mais íntimos. Sem pudor, sem receios. Você NÃO precisa ser difícil. Deixe sua alma livre para acatar às necessidades naturais do SEU corpo. Essa gente que te julga pelas atitudes e as condutas do corpo, não escuta a própria alma. E você não precisa de pessoas assim ao seu redor.

Imagino que deve ser um saco tentar se relacionar com alguém perfeitinho. Não chora, não sai, tem vergonha de gargalhar alto, português finíssimo, não dança, se importa com que os outros vão pensar sobre aquele dia que bebeu um pouco além da conta... e ainda por cima pensa que é pra casar. Eu não conseguiria ficar uma hora ao lado de um homem assim. Então, porque raios, alguns bombadões insistem em criar estes esteriótipos para nós mulheres?

Acredito que eu tenho propriedade para afirmar isso: mulher é um bicho de sete cabeças, amigão. É um livro de Camões com citações de Guimarães Rosa. É uma ideia imbecil tentar entendê-las, quiçá rotulá-las. Perenizar esta consciência é sinônimo de amadorismo em relacionamentos com o sexo feminino.
Somos fogo, mas uma ligação na hora certa nos transforma em um mar sereno. Não vou dizer também sobre manter os pés em terra firme e a vontade de saltar em queda livre em uma paixão de internet, não vou. 

Mas hoje o meu recado é pra você, mulher: ficar em casa sábado à noite é coisa de quem está de ressaca da sexta e prefere ver um filme. Ou, porque os amigos viajaram. Ou simplesmente, porque não tem dinheiro pra sair. (Obs: sempre acreditei que este é o real motivo dos homens que postam isso no facebook)

Mulher, entenda de uma vez por todas que esse negócio de ser dama na rua e puta na cama, é balela. Seja fiel às suas vontades. Entenda que não é preciso fazer uma performance da Sasha Grey entre quatro paredes, apenas ser você mesma.  Não deixe de fazer sexo com aquele cara interessante por medo do que ele pode pensar. Deixe de fazer por simplesmente não sentir vontade. Ou porque ele é um babaca, que se diz homem, mas é apenas um moleque que vai sair contando pra todo mundo no whatsapp que transou com você. 

Um basta aos esteriótipos. Escute a voz que vem aí de dentro. Canalize suas energias que a alma filtra quem deve entrar na sua vida. A alma é sábia, somente ela sabe quem merece conhecê-la a fundo, quem merece tocá-la e experimentá-la através do seu corpo. Dê ouvidos à ela. E vai viver, mulher!